Comi o Que Não Devia e Quase Abandonei a Prova: Um Relato Real

Comi o Que Não Devia e Quase Abandonei a Prova: Um Relato Real

Quando o Estômago Vira Vilão

Você já teve aquele momento em que tudo parecia estar encaixado, perfeito, indo conforme o plano… até que seu estômago resolve virar contra você?

Pois é. Foi exatamente isso que aconteceu comigo.

Meu nome é [Seu Nome ou “Lucas”, se quiser fictício], e essa história aconteceu durante uma prova de ultraciclismo que eu vinha preparando havia meses. Treinos longos, ajustes de bike, planilhas de alimentação, testes de equipamento… tudo feito com o maior cuidado possível. Mas, como dizem por aí, nem tudo sai como a gente espera. E nesse caso, o vilão não foi uma tempestade, uma falha mecânica ou uma queda. Foi uma barrinha de proteína — ou melhor, um combo alimentar nada estratégico que quase pôs tudo a perder.

Sim, comi o que não devia, e isso me levou a um dos momentos mais tensos que já vivi sobre duas rodas. Fadiga, enjoo, dor de barriga e aquele pensamento teimoso martelando na cabeça: “Será que vou ter que abandonar?”Neste relato, vou te contar em detalhes como uma escolha errada quase me tirou da prova, o que aprendi com isso e como você pode evitar cair na mesma cilada. Porque se tem algo que o ultraciclismo ensina, é que cada pedalada é uma chance de conhecer seus limites — e também seus erros

A Largada dos Sonhos

Sabe aquele momento em que tudo parece mágico? O sol começando a nascer, os primeiros raios iluminando a estrada, aquele friozinho na barriga de ansiedade e o som dos pedais clicando enquanto todo mundo se prepara pra largar. Era esse o clima. O visual era incrível — montanhas no horizonte, vento fresco no rosto e aquela sensação de que o mundo estava exatamente onde deveria estar: na estrada, em cima da bike.

A energia da largada é algo difícil de explicar. Você olha pros lados e vê ciclistas de todos os tipos, cada um carregando sua própria história, seu treino, suas expectativas. E ali, no meio disso tudo, eu estava confiante. O corpo respondia bem, a cabeça estava focada e, principalmente, a estratégia alimentar parecia sob controle.

Durante os treinos, eu já tinha testado uma sequência de alimentos que funcionava comigo. A ideia era simples:

  • Comer a cada 45 minutos, mesmo sem fome.
  • Alternar entre carboidratos rápidos (como gel e banana) e sólidos leves (como pão com pasta de amendoim).
  • Manter a hidratação constante, com água e isotônico intercalando.
  • Evitar qualquer coisa diferente do que já havia testado.

Mas, como todo ciclista sabe (ou aprende na marra), a estrada adora brincar com a nossa autoconfiança. Em um dos pontos de apoio, empolgado e achando que podia variar um pouco, acabei comendo algo que parecia inofensivo: uma barrinha de proteína nova, dessas que vendem com rótulo “zero açúcar” e “super energia”. Tava ali, disponível, todo mundo pegando, e eu pensei: “Ah, vai dar bom, né?”

Mal sabia eu que aquela barrinha ia ser o início do fim da minha paz estomacal.

Naquele momento, claro, nada parecia errado. Ainda estava curtindo o pedal, o corpo respondia bem, e a mente estava 100% na prova. Mas bastaria algumas horas para tudo começar a mudar — e rápido.

A Primeira Bandeira Vermelha

Acho que todo ciclista, em algum momento da prova, sente aquela leve queda de ritmo. Pode ser o calor, a altimetria, a cabeça… Mas dessa vez, o que começou como uma simples sensação de barriga cheia virou algo que não dava mais pra ignorar.

Foi por volta da quinta ou sexta hora de prova. Até ali, tudo tinha seguido dentro do planejado — exceto aquela barrinha marota do ponto de apoio. No começo, parecia só um leve estufamento. Eu até pensei: “Deve ser só gases, logo passa.” Mas passou não.

A sequência foi rápida:

  • Estufamento desconfortável, como se tivesse comido um boi inteiro.
  • Uma leve náusea, que ia e voltava com cada gole de água.
  • Sensação de peso nas pernas, mesmo sem ter aumentado o esforço.
  • E, o mais assustador: o ritmo começou a cair, e eu não estava fazendo isso de propósito.

Foi aí que a mente começou a entrar no jogo. Uma dúvida bem típica dessas horas:
“Será que é só cansaço… ou foi aquela barrinha?”

A gente sempre quer acreditar que é só uma fase, que vai passar. Mas cada pedalada vinha com mais desconforto. E o pior: quanto mais eu forçava pra manter o ritmo, mais parecia que meu corpo queria me sabotar.

Nessa hora, um dilema muito real apareceu:


👉 Paro um pouco e tento entender o que tá rolando?
👉 Ou sigo firme e espero que o corpo se ajuste?

A cabeça dizia pra continuar — afinal, “você treinou pra isso, aguenta firme!” — mas o corpo já dava sinais claros de que algo estava fora do eixo. Eu sabia que se continuasse forçando, poderia transformar um problema médio em uma crise daquelas.

Spoiler: eu segui mais um pouco… e aí o bicho pegou de vez.

A Tempestade no Estômago

Tem hora que o corpo simplesmente diz “chega”. E foi exatamente isso que aconteceu. Uns quilômetros depois daquela fase estranha de estufamento e enjoo, a coisa virou um verdadeiro caos interno. Não foi gradual. Foi como se um botão tivesse sido apertado e, de repente, eu estava em guerra com meu próprio estômago.

A dor começou a ficar pontuda, ali na parte superior da barriga. Não era só desconforto — era como se eu tivesse comido concreto. E tudo o que eu tentava ingerir dali pra frente (água, isotônico, até uma bananinha) vinha com uma ameaça: ou voltava ou se transformava em mais náusea.

Sinais de que a coisa desandou de vez:

  • Um enjoo que fazia qualquer gole de água parecer uma maratona.
  • Uma fraqueza estranha nas pernas, como se eu tivesse pedalado o dobro da distância real.
  • Suor frio, mesmo em ritmo leve.
  • A cabeça turva, alternando entre “dá pra seguir” e “melhor parar antes que desmaie em cima da bike”.

Foi então que aconteceu a cena mais marcante do dia: parei no acostamento, me encostei no guidão e simplesmente fiquei ali, tentando não vomitar, tentando não chorar de frustração.

E sabe o que passava pela minha cabeça?
“Como é que uma barrinha — UMA barrinha — conseguiu estragar tudo isso?”

A equipe (bendita equipe!) veio logo atrás. Um dos caras me olhou e nem precisou perguntar. Eu só consegui dizer:
“Cara, acho que deu ruim. De verdade.”

Eles tentaram de tudo. Um me ofereceu refrigerante, outro um salzinho, outro só falou: “Respira. Vamos tentar resolver.” Mas no fundo, eu já sabia… o pensamento de abandonar não era só uma sombra distante. Era uma opção real. E estava cada vez mais difícil não ceder a ela.

Procurei um lugar mais afastado, atrás de uma árvore, e ali tive meu momento “banheiro improvisado da vergonha”. Não entrarei em detalhes — quem já passou por isso sabe. Mas te garanto que não tem nada mais humilhante do que ficar agachado atrás de um matinho, com a roupa de ciclismo toda amassada, e pensando em todo o esforço jogado fora.

A pergunta martelava:


“Será que vale a pena continuar?”

Spoiler: ainda não desisti. Mas naquele momento… se alguém dissesse “acabou, vamos embora”, eu teria aceitado.

O Recomeço Mais Lento do Mundo

Depois da tempestade, vem… o recomeço. Mas ao contrário do que dizem, ele não veio como um raio de sol ou uma súbita onda de energia. Foi mais como um amanhecer nublado: lento, hesitante, e com uma boa dose de incerteza.

Ali parado, depois do sufoco intestinal, a única coisa que eu conseguia pensar era: “Tá, e agora?”
O abandono ainda era uma possibilidade, mas minha teimosia começou a sussurrar mais alto que a dor.

A primeira tentativa foi básica:

  • Um gole pequeno de água com um pouco de sal (o bom e velho truque da avó disfarçado de estratégia esportiva).
  • Respiração profunda, tentando convencer meu corpo de que estava tudo bem — mesmo ele dizendo o contrário.
  • Um pouco de descanso parado, sem forçar, só esperando o estômago se acalmar.

Depois de uns 15, 20 minutos (que pareceram horas), subi na bike de novo. O primeiro giro de pedal foi quase simbólico. Era como se eu estivesse reaprendendo a pedalar. Devagar, pesado, sem confiança. Mas estava andando. E só isso já foi uma vitória.

Pequenas conquistas que marcaram esse retorno arrastado:

  • Conseguir pedalar por 10 minutos sem sentir vontade de deitar no chão.
  • Ver uma garrafinha d’água pela metade e pensar: “consigo tomar isso agora”.
  • Chegar no próximo PC (ponto de controle) e ouvir alguém dizer: “Boa, você conseguiu passar!”
  • Trocar duas palavras com outro ciclista e rir (mesmo que meio amarelo) de tudo o que tinha acontecido.

A cada quilômetro, a mente ia reconectando com o corpo. Eu ainda estava longe de me sentir “bem”, mas já não me sentia derrotado.

Aquele recomeço, lento e torto, foi um dos momentos mais importantes da prova. Porque não foi sobre desempenho. Foi sobre decisão. Sobre escolher continuar mesmo quando tudo gritava pra parar.

E ali, pedalando com estômago sensível, cara amassada e pernas pesadas, eu percebi:
O ultraciclismo não é só sobre pernas fortes. É, acima de tudo, sobre cabeça dura e coração resiliente.

A Chegada com Gosto de Superação

Cruzar a linha de chegada depois daquela saga foi diferente de qualquer outra prova que já fiz.

Não teve sprint final. Não teve comemoração eufórica. Não teve aquela explosão de energia dos vídeos de ultraciclistas emocionados. O que teve foi um suspiro. Um daqueles longos, como se eu estivesse segurando a respiração desde o primeiro enjoo horas atrás.

As sensações vieram em camadas:

  • Alívio: porque finalmente acabou. Porque eu não precisei desistir, mesmo achando que não conseguiria.
  • Orgulho silencioso: daquele tipo que não precisa de aplausos. Só saber que enfrentei meu corpo e minha cabeça e segui em frente já bastava.
  • Exaustão completa: física, mental, emocional. Era como se cada célula do meu corpo estivesse cansada — mas de um jeito bom, daquele cansaço que te lembra que você deu tudo de si.

Sentei no chão logo depois da chegada, encostado no meio-fio, sem forças nem pra falar. Mas com um leve sorriso. Aquilo não foi uma vitória de performance. Foi uma vitória de persistência.

E sabe o mais curioso? Das várias provas que já fiz — com melhores tempos, com menos erros, com mais energia — essa foi a que mais me ensinou. Porque ela me mostrou:

  • Que nem sempre o plano dá certo, e tá tudo bem.
  • Que o corpo é forte, mas a mente é o que carrega a gente até o fim.
  • Que superar uma crise não depende de grandes feitos, mas de decisões simples: beber água, respirar fundo, tentar de novo.
  • E, principalmente, que às vezes o caminho até a chegada ensina mais do que a chegada em si.

No fim das contas, aquela comida errada virou parte da história. Um vilão temporário que me forçou a ser mais resiliente, mais paciente e — por que não? — mais humano sobre a bike.

E ali, sentado no chão com uma barrinha na mão e a medalha no pescoço, eu pensei:
“Essa prova não me derrubou. Ela me moldou.”

O Que Eu Aprendi (E Você Também Pode Evitar)

Olha, se eu pudesse voltar no tempo e dar uns conselhos ao “eu” que estava ali na estrada, com aquele estômago encrencado e a mente já desconectada, eu diria o seguinte:

1. Teste TUDO nos treinos

  • Nada de ser “aventureiro” na prova. Se você nunca experimentou um tipo de alimento, suplemento ou bebida, não é na prova que você vai testar.
  • Durante o treino, tente simular as condições do evento: use as mesmas roupas, coma os mesmos lanches, beba a mesma água. O seu corpo vai se adaptar mais rápido e você vai descobrir o que realmente funciona.
  • Exemplo prático: Eu, por exemplo, sempre usei gel de carboidrato nas provas, mas nunca testei o tipo de comida “normal” que comi nesse dia — e esse foi um erro. Teste tudo, mesmo os detalhes pequenos.

2. A procedência da comida importa (e MUITO)

  • Não basta só escolher o que comer — você tem que garantir que a comida não vai causar problemas durante a prova.
  • Se for comprar lanches ou alimentos fora, pesquise bem. Pergunte sobre a origem, a frescura dos ingredientes, etc.
  • Naquele dia, achei que uma comida simples, “caseira”, seria inofensiva — e acredite, foi o contrário. O estômago não mente.

3. Ouça o seu corpo!

  • Acho que o maior aprendizado de todos foi aprender a prestar atenção aos sinais do corpo, principalmente no meio de uma prova longa. Ignorar a dor, o cansaço ou aquele incômodo inicial pode parecer uma boa ideia no começo, mas depois vira um pesadelo.
  • Exemplo real: No momento em que comecei a sentir os primeiros sinais de náusea, eu ignorei. Fui mais duro comigo mesmo, dizendo “é só cansaço”. Mas a verdade é que meu corpo estava me pedindo uma pausa antes de chegar àquele ponto crítico.

Dicas extras para quem está começando no ultraciclismo:

  • O que levar:
    • Hidratante (beba mais do que você acha que precisa)
    • Lanches leves e de fácil digestão (não exagere no carboidrato de uma vez)
    • Um kit de reparos básico (pneu, bomba, fita, etc. — parece óbvio, mas em provas longas, o básico faz toda a diferença)
    • E, claro, bom senso (sim, aquele mesmo que às vezes esquecemos!)
  • O que evitar:
    • Comer muito ou com pressa nas paradas. A digestão é um processo delicado, e o seu corpo vai estar pedindo tudo de você — não exagere.
    • Sair sem um plano de alimentação claro — mesmo que seja só por instinto. O que parece estar “tudo certo” na largada pode virar um pesadelo com algumas horas de esforço contínuo.
  • O que observar durante a prova:
    • Fique atento ao seu ritmo e como o corpo reage aos desafios. Se os sinais de cansaço começarem cedo demais, talvez você precise ajustar seu planejamento alimentar.
    • A importância das paradas regulares. Não é só sobre o que você come, mas como e quando faz isso.
    • E, por último, não ignore os sinais emocionais. Eles são tão importantes quanto os físicos. Às vezes, o cansaço mental pode ser mais forte que o físico.

Essas lições me ajudaram a sair da prova com mais aprendizado do que qualquer medalha poderia representar. E, com certeza, se você puder aplicar algumas delas nos seus treinos e nas suas provas, a jornada vai ser bem mais tranquila.

E olha, se você está começando agora, ou já tem um tempo na estrada, lembre-se: o ultraciclismo é muito mais sobre saber ouvir seu corpo e sua mente do que sobre ser o mais rápido. Não subestime os detalhes — eles fazem toda a diferença quando você menos espera.

Conclusão: Quando o Corpo Diz “Não” e a Cabeça Diz “Vai”

Ultraciclismo é uma jornada de altos e baixos, e, quando você acha que já experimentou de tudo, a estrada sempre tem algo novo para ensinar. A grande lição que tirei dessa prova foi sobre resiliência, humildade e autoconhecimento. Não importa o quanto você treine ou planeje — em algum momento, o corpo vai gritar “basta”. A chave é saber quando esse grito é um sinal para parar e cuidar de si, ou quando é simplesmente uma onda de cansaço que pode ser superada com um pouco de força mental.

No meio do caos de uma prova, o que realmente importa não é só o tempo que você está pedalando ou a distância que falta para a linha de chegada. O que realmente define a experiência é o que você aprende enquanto atravessa a tempestade. Cada quilômetro percorrido não é só uma métrica física, mas uma chance de descobrir do que você é capaz, de testar os seus limites e, principalmente, de entender o que seu corpo e sua mente estão tentando lhe dizer.

Exemplos do que aprendi:

  • Resiliência: Chegar ao ponto de quase desistir e depois se reerguer não é fraqueza. Pelo contrário, é onde a verdadeira força se revela. Às vezes, a maior vitória não é cruzar a linha de chegada, mas ter a coragem de continuar quando tudo dentro de você quer parar.
  • Humildade: O ultraciclismo ensina a baixar a guarda e a admitir que não somos invencíveis. Errar na alimentação ou forçar o corpo além do limite pode acontecer com qualquer um — a diferença está em como lidamos com isso.
  • Autoconhecimento: Quando você se encontra em situações extremas, longe do conforto e das certezas, acaba se conhecendo de uma maneira que não imaginava. O que você realmente precisa para seguir em frente? O que te motiva a não desistir, mesmo nos piores momentos?

Eu diria que a maior lição dessa prova não está nos quilômetros percorridos, mas sim no processo de superação pessoal. Quando o corpo diz “não” e a mente diz “vai”, é aí que você descobre algo mais profundo sobre si mesmo. Algo que vai além da bike, além do pedal — e é isso que te prepara para as próximas batalhas.

Frase de impacto: 

“Às vezes, não é o tempo que define sua prova. É o que você aprende nela.”

Porque no final, o que fica não são só os números ou a medalha, mas a história de como você superou os obstáculos internos e externos. E isso, meu amigo, vale muito mais que qualquer recorde.

Compartilhe conosco…

E você, já passou por algum perrengue digestivo durante uma prova? Aposto que não foi nada fácil lidar com aquele desconforto no meio da corrida, não é? Eu sei bem como é!

Se já viveu algo parecido, seja uma comida que não caiu bem, um erro de alimentação ou qualquer outro imprevisto no estômago que quase fez você abandonar a prova, compartilha sua história aqui nos comentários! Vai que a gente se reconhece por aí, quem sabe até trocamos dicas e risadas sobre esses momentos de tensão que, no final, viram boas histórias.

Estou curioso para saber: qual foi o seu maior desafio digestivo no ultraciclismo?

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